maio 17, 2014

O capitalismo como religião



"O nosso diálogo teve como pano de fundo um manuscrito de Walter Benjamin, "Capitalismo como religião”, onde ele diz: "Pode-se reconhecer no capitalismo uma religião. Isto é, o capitalismo serve essencialmente à satisfação de preocupações, tormentos e inquietudes aos quais outrora davam resposta as chamadas religiões”.
Essa discussão pede uma reconsideração da noção da religião, mas, acima de tudo, nos demanda uma nova compreensão do que é a modernidade e a tal de "secularização”, que foi objecto de muitos debates sem tocar no tema do capitalismo como religião; isto é, sem discutir o possível deslocamento do binómio sagrado-profano das religiões tradicionais para o sistema económico.

Para que o capitalismo seja visto como uma religião, é preciso criticar a noção de religião inventada no Ocidente e consolidada no século dezanove; uma noção que reduz religião a uma parte da vida humana e social (vida privada e a questões "espirituais”), que a distingue e separa da esfera do "secular”, seja a do político ou económico.

Se o capitalismo de fato funciona como uma religião ou se tomou o lugar das religiões tradicionais, para criticá-lo é preciso entender os meandros da religião e dos "segredos” dos conceitos teológicos como "sacrifício”, "dívida/culpa” e "promessa” que apresentam dominação e exploração como caminho de "salvação”. Não levar em consideração os aspectos religiosos e teológicos do sistema capitalista é fazer uma crítica ao capitalismo dentro da compreensão da modernidade que o próprio capitalismo criou como parte da sua ideologia.
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Jung Mo Sung, "Teologia da Libertação e ‘capitalismo como religião’: diálogo com um ‘velho mestre'" 21 de Julho de 2013. Disponível em: http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=1146 


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