agosto 02, 2007

Espaço-temporalidade, Trabalho Imaterial e Resistência: reflexões sobre o cotidiano do trabalho contemporâneo

"Conforme Pelbart (2003, p.97),o ideal hoje é ser o mais enxuto possível, o mais leve possível, ter o máximo de mobilidade, o máximo de conexões úteis, o máximo de informações, o máximo de navegabilidade, a fim de poder antenar para os projetos mais pertinentes com duração finita, para o qual se mobilizam as pessoas certas, e ao cabo do qual estão todas novamente disponíveis para outros convites, outras propostas, outras conexões.


O modo conexionista do capitalismo traz como conseqüências a finitude das fronteiras, tal como a modernidade líquida descrita por Bauman (2001), proporcionando “a liberação do capital, de sua fronteira antes restrita, estanque, pesada, mecânica, podendo agora, no ciclo produtivo mobilizar o homem por inteiro, sua vitalidade mais própria e visceral, sua ‘alma’” (PELBART, 2003, p.99).


[...]



Atravessado pela velocidade e pela mobilidade, o trabalho imaterial demanda do trabalhador da sociedade da informação um esquecimento do que passou. Não mais deve ter no passado o apego às referências para a construção do futuro.

O trabalhador, em contexto de trabalho imaterial deve desapegar-se, desprender-se da concepção de trabalho duramente construída na lógica taylorista/fordista e assumir as novas demandas, deveria derreter os sólidos, como lembra Bauman (2001).

No entanto, esse “derreter de sólidos” antes de significar a liberdade do sujeito, dentro de uma nova ordem, significa uma nova amarra, um novo formato, um novo molde: nenhum molde foi quebrado sem que fosse substituído por outro; as pessoas foram libertadas de suas velhas gaiolas apenas para serem admoestadas e censuradas caso não conseguissem se realocar, através de seus próprios esforços dedicados, contínuos e verdadeiramente infindáveis, nos nichos pré-fabricados da nova ordem (BAUMAN, 2001, p.13)"

in Vânia Gisele Bessi,

"Espaço-temporalidade, Trabalho Imaterial e Resistência: reflexões sobre o cotidiano do trabalho contemporâneo"

http://pascal.iseg.utl.pt/~socius/publicacoes/wp/wp200701.pdf

junho 20, 2007

Um dia

Um dia

Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.


O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há-de voltar aos nossos membros lassos
A leve rapidez dos animais.


Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala.



Sophia de Mello Breyner Andresen