novembro 05, 2006

"Os principais estratos que manietam o homem são o organismo, mas também a significância e a interpretação, a subjectivação e a sujeição".

"Os principais estratos que manietam o homem são o organismo, mas também a significância e a interpretação, a subjectivação e a sujeição.

O conjunto de todos eles separa-nos do plano de consistência e da máquina abstracta, precisamente onde já não há regime de signos, mas onde a linha de fuga efectua a sua própria positividade potencial, e a desterritorialização a sua potência absoluta.

Ora, a este respeito, o problema fundamental é inverter o agenciamento mais favorável: fazê-lo passar, da sua face orientada para os estratos, para a outra face orientada para o plano de consistência ou o corpo sem órgãos.

A subjectivação leva o desejo a tal ponto de excesso e de desprendimento que este deve, ou afundar-se num buraco negro, ou então mudar de plano. Desestratificar-se, abrir-se a uma nova função, a uma função diagramática. Que a consciência deixe de ser o seu próprio duplo, e que a paixão já não seja o duplo de um para o outro. Fazer da consciência uma experimentação de vida, e a paixão num campo de intensidades contínuas, uma emissão de signos-partículas. Construir o corpo sem órgãos da consciência e do amor. Utilizar o amor e a consciência para abolir a subjectivação: 'para ser um grande amante, o magnetizador e o catalizador, há que ter sobretudo a sabedoria de não ser mais que o último dos idiotas'.

Utilizar o Eu penso para um devir-animal, e o amor para um devir-mulher do homem. Des-subjectivar a consciência e a paixão. Será que não existem redundâncias diagramáticas que não se confundam nem com os significantes, nem com as subjectivações? Redundâncias que já não seriam nódulos de arborescências, mas sim re-nodulações e prolongamentos num rizoma?

Ser gago da linguagem, um estrangeiro na sua própria língua."

(Gilles Deleuze et Félix Guattari, Capitalisme et Schizophrénie. Mille Plateaux, Paris, Les Editions de Minuit, 1980, pp. 167-168)

1 comentário:

Albino disse...

Interessante como Deleuze e Guatarri constroem Capitalismo e Esquizofrenia e como humanizam novamente o pathos grego para a filosofia contemporanea.

Nietzsche já havia trazido isso com o Dionisio, mas é perceptivel seu esquecimento na filosofia moderna categorizando-o como a perdição do homem, e como também com a banalização de um sistema que desterritorializa o homem em sua maior virtude que é criar.

Talvez por isso tenda-se a um medo desse fervor positivista cientificista e ainda esse neoliberalismo que domina o homem. Cabe a reflexão para o homem sobre a questão que suscita nesse momento que é voltada diretamente no problema da criação do corpo sem orgãos, da terra em que homem constroi seus desejos. Desta forma é possivel rever conceitos, e desenterrar as raizes do exercicio de poderes.