fevereiro 24, 2014

As singularidades selvagens

Anna Karina, no filme de Jean-Luc Godard "Vivre sa Vie" (1962) 

Quem, ligado às instituições académicas, se atreve a estudar as singularidades selvagens arrisca-se a ser empurrado para a margem das margens, a ser banido. Ou, se tiver ainda forças, então aprende a nadar. A resistir. Como o fundador da moderna genética, o monje agostiniano Gregor Mendel.



"No seu livro `'Ordem do Discurso" (...) Michel Foucault invoca uma "exterioridade selvagem" e toma o exemplo do monje Gregor Mendel ['pai' da moderna genética], que constituía objetos biológicos, conceitos e métodos inassimiláveis pela biologia da sua época. 



Isso não é nem um pouco contraditório com a idéia de que não há experiência selvagem. Não há, porque toda experiência já supõe relações de saber e relações de poder. Ora, precisamente, as singularidades selvagens são repelidas para fora do saber e do poder, nas "margens", de tal forma que a ciência não pode reconhecê-las". 



Gilles Deleuze



in Gilles Deleuze, "Foucault", 2.ed., São Paulo, Brasiliense, 1991, p. 124-130.


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