janeiro 20, 2013

A tendência estética não se confunde com a arte




                                                               Fragmento da pintura "Contos bárbaros" do pintor Paul Gauguin  1902).



 A "arte" é cada vez mais um domínio da vida comandada pelo negócio, pela negação do ócio. Mesmo dentro da ideia abstracta de arte, as obras criadoras de impressão estética que poderiam ser subversivas no momento da criação, que poderiam ter uma aura de sagrado, são rapidamente reverenciadas, colocadas em espaços de tipo "religioso". 

O que caracteriza a impressão estética não se reduz à arte. Segundo Simondon, é a perfeição do acabamento que lhe confere uma dimensão universal, passando a constituir um equivalente da totalidade mágica. A obra de arte, seja um "post" no Facebook, um filme, um livro, uma música ou uma pintura, permite a impressão estética sem ser essa percepção.

Nos tempos de agora, o fenómeno religioso e a técnica envenenaram, por assim dizer, a experiência. Condições que nos levam a ter muito cuidado com o que se diz e faz. Ser "artista" assemelha-se um pouco a ser um criador que perdendo a consciência normalizada se torna mais consciente. Uma forma que se afasta da "religião-medo" dos monoteísmos. 


 Palavras de Gilbert Simondon (1989): "a obra de arte fazendo parte de uma civilização utiliza a impressão estética e satisfaz, talvez artificialmente e de maneira ilusória, a tendência do homem para procurar, quando exerce um certo tipo de pensamento, o complemento em relação à totalidade. […] Mas a obra de arte não reconstrói realmente o universo mágico primitivo: este universo estético é parcial, inserido e contido no universo real e actual proveniente do desdobramento. De facto, a obra de arte mantém (e preserva) sobretudo a capacidade de experimentar a impressão estética, tal como a linguagem permite a capacidade de pensar, sem no entanto ser o pensamento". 

A tendência estética é, de algum modo, uma nostalgia viva da união mágica entre o ser e mundo em condições diferentes das pré-modernas. 

Citações de:

Gilbert Simondon, Du mode d'existence des objets techniques, Paris, Aubier, 1989.




Texto revisto em 15 de Janeiro de 2015.


Ver nota sobre Gilbert Simondon em:
http://rizomando.blogspot.mx/2004/09/pensamento-tcnico-e-pensamento-esttico.html

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